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FELIPE OLIVEIRRA MELLO 

TEXTS

 

Les Précieuses

 

“Beleza não é luxo, é uma necessidade”, afirma Adélia Prado. Felipe Oliveira Mello ratifica a máxima da poetiza em sua produção recente, onde a primazia pela estética se manifesta por meio de seu refinamento e precisão técnicos, notáveis na composição das imagens, na escolha dos materiais e no próprio fazer artístico. As progressões geométricas, constituídas de linhas bordadas à mão e adornadas com folhas de ouro e lustrosas miçangas, configuram uma espécie de parnasianismo plástico, pois aliam rigor técnico e poética.

Materiais rudes e de pouco valor comercial como o papel kraft, predominante nos trabalhos da série Gênesis,  se convertem em suportes para suas estruturas que não sugerem mais do que a plena fruição do belo, no sentido físico do termo. Ainda que o resultado estético possa remeter à mera apreciação da beleza, a pesquisa de Felipe se propõe a discutir seus signos. A beleza, enquanto ideal oposto à realidade, sempre foi mote para diversos estados da arte, como na antiguidade clássica e na renascença. Uma característica que alude ao parnasianismo plástico que mencionei anteriormente e que é patente no trabalho de Felipe é o preciosismo. A exemplo da Marquesa de Ramboulliet e as damas freqüentadoras de seu Chambre Bleu, que se valiam de uma linguagem exageradamente rebuscada, beirando ao incompreensível, para imprimir à literatura francesa do século XVII a ironia do excesso de delicadeza e refinamento frente à rudeza das relações humanas da época, Felipe lança mão do conceito de “luxo” para discorrer sobre o papel deste em uma sociedade que busca em seus símbolos uma sublimação, especialmente na atualidade, onde vivemos tempos de economias emergentes versus decadência dos imperialistas. O valor que determinados materiais expressam os tornam objetos de desejo, conferem poder. Na série Herdeiros, o artista demonstra como valores abstratos, como elegância, credibilidade e nobreza são reconhecidos e legitimados pelas madeixas louras de cabelo, pérolas, e outras matérias sacralizadas pelo capitalismo, desde a exploração do ouro no mercantilismo europeu da Era Moderna, passando pela indústria cinematográfica norte-americana nos anos 1950 e 1960, chegando às grifes da alta moda que, não por acaso, é um dos referenciais de Felipe.

 

 

 

Luize Coutinho.

 

 

 

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